domingo, 6 de outubro de 2019

UM POEMA OFICINEIRO


Maria Teodorina Evangelista dos Anjos

Maria viu a uva.

Aprendeu a ler.

Aprendeu que a uva do Ivo dava até no sertão.

Então Maria foi colher uva e não varrer o chão.

Maria Teodorina aprendeu que Deus dá o frio conforme o cobertor.

Por isso colheu crença nos evangelhos.

Acreditou na prosperidade e na mudança.

Maria Teodorina Evangelista se firmou.

Comprou celular e colocou sorrisos em selfies.

Foi feliz no pancadão dançando de shortinho.

Teve filhos aqui e ali, companheiros vão e vêm.



Conseguiu ser periferia e só...



Só não entendia por que os Anjos não a deixavam voar mais alto.

Então cortou as asas, os pulsos, e voltou a ser



Maria.






Vida Maria 
(2007 ‧ Curta-metragem/Animação ‧ 9 min - Márcio Ramos) 

4 comentários:

  1. Gostei da construção crescente da ideia: nasceu Maria, cresceu Maria Teodorina, firmou-se Maria Teodorina Evangelista e foi “podada” pelos Anjos. A questão é: o que se quis dizer nos intervalos desse nome completo? Ela não se contentou com o tamanho do cobertor, pois não morreu Maria Teodorina? Entendeu diferente o sentido de prosperidade (conseguiu só ser periferia), já que não morreu Maria Teodorina Evangelista? Constatou as “podas” (das pseudoasas), porque não morreu Maria Teodorina Evangelista dos Anjos? Uma analogia à Bíblia termina havendo no final (talvez meio distante nas palavras do texto)  “somos pó e ao pó voltaremos” ou nasceu Maria e como Maria morreu  e talvez possa se justificar: a ilusão de Teodorina e a de Evangelista se dissiparam e a desilusão das asas se sobressaiu, levando-a de volta a Maria. Acho que o nome dela sustenta essa analogia: Maria, clara alusão à Santíssima; Teodorina, Teo representando Deus; Evangelista, aquele que evangeliza; dos Anjos, que pertence aos anjos. O papel dos Anjos era levá-la de volta à Maria? A preposição indica origem, pertencimento, procedência. Assim sendo, ela deveria ser somente Maria dos Anjos;Teodorina e Evangelista apenas demarcariam suas buscas na vida. Mas em meio às especulações filosófico-religiosas, fica um mar de ideias. Ou também sobram ideologias? Ou não precisamos ir tão longe? Nossa santa impotência diante da poesia!!!! E pensar que, muitas vezes, ela nasce tão despretenciosamente !!?? Rsrsrs. Bacio.

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  2. Depois de Irene, comentar????
    Beijão, amiga.

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  3. Depois de Irene, comentar???
    Beijão, amiga.

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