Bet com t mudo

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BET COM T MUDO... Quem me conhece, reconhece? Já me imagino receptora deste blog. Quem é esta mulher? Quem é esta Eli, Elisa, Betina, Betuska, Betî, resumida numa Bet com t mudo? Esta afirmação diminuta diz (ou desdiz?) uma identidade... Assim, quem sou eu? Sou (sim) uma idealizadora das pessoas, das relações, das amizades, das produções minhas e dos outros. Consequência: um sofrimento que perdura... na mulher crítica que procura saber e tomar consciência finalmente de quem é e do que ainda pode fazer (renascer?!) nesta fase da vida, um envelhecimento em caráter de antecipação do inevitável. Daí a justificativa do blog. Percorrer olhares, visualizar controvérsias, pôr e contrapor, depositar num receptor imaginário (despojá-lo do ideal, já que eu o sou!) uma escrita em que o discurso poderá trazer uma Bet com t falante... LEITURAS, ESCRITAS, SIGNATURAS...

quarta-feira, 25 de junho de 2025

NAS RAIAS DAS (IN)CERTEZAS: ENCONTRO IMAGINÁRIO: DURAND, BAKHTIN E PEIRCE

 

Para que a criação ocorra é necessário imaginar, princípio básico. Assim, posso criar um encontro imaginário, mesmo que introdutoriamente, entre o francês Gilbert Durand (1921-2012), o russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) e o estadunidense Charles S. Peirce (1839-1914).

Nas minhas pesquisas, já os havia encontrado e percebido os liames epistemológicos do que defenderam e desenvolveram criativamente. De referência comum há o fato de todos eles terem sido filósofos, entre outras atribuições, o que antecipa idiossincrasias em suas concepções teóricas e o pragmatismo distintivo de cada um.

Espécie de incipiente roteiro teatral para esse encontro fictício, procuro sintetizar alguns postulados dos envolvidos, em que também me situo e admito. São muitos anos de estudo e de embates metodológicos, artigos e trabalhos práticos, alguns publicados. Entendo que a própria seleção dos envolvidos – apenas três - já implica num olhar limitado, senão atrevido, de interesse pela reflexão e pela empatia com as teorias que os caracterizam, tentando mostrar, ainda que sumária e racionalmente, onde se encontram e onde se distinguem.

E propor, como objetivo deste artigo, uma atenção interdisciplinar mais acurada, em especial nas análises, olhares e leituras de fatos, referências, objetos, textos, arte. Ressalte-se que todos eles, seja Durand com seus estudos sobre o imaginário, Bakhtin focando no diálogo polifônico, Peirce em sua tríade gerativa de significados, não se circunscrevem isoladamente.

Há influências e colaboradores em suas concepções, múltiplas e abrangentes. Portanto, não é tarefa fácil trabalhar em determinada direção ou restringir aspectos. Até porque não conheço em profundidade o complexo arcabouço teórico de suas obras extensas e da bibliografia resultante. Desse modo também não vou colocar citações ou uma bibliografia. A incompletude fica como desafio.

O que percebo, no final de contas, é a linguagem humana e comunicativa que está na base desses estudos. Uma linguagem produzida por signos ideológicos, simbólicos e gerativos de significação, que desembocam na criação do imaginário. E que se amplia na decodificação de signos verbais e não verbais, acústicos, pictóricos, em sua multiplicidade ontológica. E onde nos reconhecemos humanamente. Nós e o outro, em sua alteridade existencial.

É, pois, a troca de significados entre o original, a produção e a recepção, uma dinâmica essencialmente dialógica, traduzida em possibilidades e relações de sentido, como estruturou M. Bakhtin em várias de suas obras. Intertextos, memórias do passado e expectativas de futuras respostas podem ser ressignificadas nas diferentes vivências.

Gilbert Durand insere o imaginário na relação com o cosmos e o meio ambiente, na noção fundamental do “trajeto antropológico”, propondo uma espécie de gramática iconológica que obedece a uma lógica de imagens, constituída por dois regimes, diurno e noturno, e três estruturas antropológicas que configuram o imaginário e que orientam as análises nessa linha específica, a chamada mitocrítica. Sob a teoria do imaginário, as constelações simbólicas seriam os conjuntos que se interligam em diferentes culturas, provenientes de narrativas míticas; a imaginação simbólica vai se manifestar quando o significado não é de modo algum apresentável e o signo só pode referir-se a um sentido e não a uma coisa sensível.

Charles Sanders Peirce, associado a um conceito básico nos estudos da contemporaneidade, a Semiótica, ou ciência geral dos signos, tendo em vista que a compreensão dos elementos da realidade não ocorre independentemente das suas representações. Desse modo, configura-se como aplicável à compreensão de diversos e distintos sistemas de linguagem, incluindo no momento, os estudos de e sobre o imaginário.

Feitas essas ligeiras apresentações, podemos, portanto, iniciar a interlocução desse encontro...



G.Durand. A questão da lógica, de que Peirce trata, também foi tratada por mim, na análise das imagens representativas. Acho que podemos discutir mais diretamente a questão do símbolo, pois ele é sempre a manifestação de um significado oculto, que transborda as barreiras da conotação comumente adotada pela dimensão do código linguístico. 






C.S.`Peirce. OK. Nunca "fecharemos" diretamente essa questão, mas a subjetividade da leitura do símbolo é sempre um desafio.



M. Bakhtin. Sim, há muito a se discutir, talvez nunca desfazer os nós e equívocos do que pensamos, assim como de nossas vidas e suas incompletudes. Porém, antes de mais nada, devemos considerar que todo ato de compreensão é dialógico, diferenciando-se de uma postura linear, ainda retrógrada, cartesiana. Jamais um pesquisador será neutro, estará sempre permeado pelo seu horizonte avaliativo. Na atividade científica, a relação do pesquisador com o objeto entra em diálogo com os discursos observados e com os discursos anteriormente produzidos sobre o objeto. Mais do que uma questão metodológica, é uma questão de princípio.



G.Durand. Concordo. Justifico essa dinâmica investigativa, interpretativa, pois o símbolo sempre trará um significado adicional, indicado por meio da narrativa onde é empregado e os elementos com os quais ele se integra. Dentro de um código linguístico deve-se observar seu movimento, adaptação e valorização em cada contexto. Assim, em minha teoria sobre o imaginário, acrescentei a universalidade dos arquétipos, o que contrasta com os símbolos que apresentam diferenças dependendo do meio. Por isso faço uso do “trajeto antropológico”, essa incessante troca que existe ao nível do imaginário, entre a subjetividade desse pensar e os desafios objetivos que emanam do meio cósmico e social.

C.S.Peirce. Exatamente. Desenvolvi a semiótica, uma teoria geral dos signos, na tentativa de descobrir a lógica que fundamenta as nossas concepções do real e como o conhecimento cresce a partir do compartilhamento e debate de opiniões no interior de uma comunidade. Considero o signo como o meio para a transmissão das formas que fundamentam os conceitos, e a comunicação como a mais elevada dos vários tipos de ação do signo. Sempre trabalhamos as mediações simbólicas em processo contínuo e interativo.

G.Durand. Nessa linha, acho importante esclarecer o fato de que os símbolos se mantêm discutíveis e em contínua transformação. De todo modo, discordo de Pierce, pois não vejo o símbolo como arbitrário, há um sentido natural, como imagem em sentido mais amplo, um modo de a consciência apresentar objetos que não se apresentam diretamente à sensibilidade. É isso a que chamo de símbolo: a reunião dessa imagem com um sentido. Por isso é uma imagem simbólica, reveladora de uma maneira de enfrentar ou compreender sua inserção no mundo.

C.S.Peirce. Mas é essa também sua natureza gerativa: crescer e se desenvolver num universo inteligível e repleto de sentido. Chamei esse aspecto de semiose. Aliás, nessa conversa, há sempre uma palavra que já foi usada, virou clichê, mas é fundamental: entender como processo, de uma dinâmica intrínseca. No caso, o processo de significação em sua função semiótica, que ocorre em todo ato de linguagem, seja ela artística ou não. Mesmo que a vejamos diferentemente em sua concepção particular.

M.Bakhtin. Percebem como estamos falando de teorias e práticas em comum? Claro, há distinções e muitas. Mas ressaltamos que a pertinência de uma perspectiva dialógica se dá pela análise das especificidades discursivas de situações em que a linguagem e determinadas atividades se interpenetram, assim como do compromisso ético do pesquisador com o objeto que, dessa perspectiva, é também ele, um sujeito histórico, atravessado por relações de poder que provocam efeitos no mundo social.  Não é possível, em pleno século XXI, aceitar uma análise monodirecionada, alguns estudos de mão única que vemos em registros variados.

G.Durand. Entendo que precisamos nos encontrar outras vezes, especialmente nos trabalhos de mitocrítica, mostrando que nossa subjetividade pode e deve ser trabalhada de uma perspectiva polifônica, um diálogo de muitas vozes e consciências, assim como de um entendimento mais amplo da semiose, um processo de significação ilimitado, dinâmico e gerativo dos símbolos em nosso imaginário e em nossa humana condição. Tudo vai culminar na dinâmica sociocultural e organizacional dos mitos, sua razão de ser contra a angústia do tempo e da morte. Afinal, em nosso mundo contemporâneo, lidamos com uma multiplicidade de sistemas semióticos em jogo no processo de produção de sentidos.

...oooOooo...

Teria sido possível esse encontro? Haverá outros? De todo modo, para concluir, apresento um gráfico gerado por IA mostrando a intersecção, senão entre eles, as teorias que os representam e o propósito deste artigo, entre coloquial e um tiquinho irreverente...




Gráfico gerado por IA mostrando a intersecção entre imaginário, semiose e dialogismo, com a ajuda da ferramenta de IA GPT-4 da OpenAI., em setembro de 2024.

 1.      Círculo do Imaginário em amarelo:  Representa o conceito de “imaginário”. Ele abrange ideias, símbolos e imagens, incluindo mitos, sonhos e arquétipos 

2.      Círculo da Semiose em azul: Neste círculo, encontramos o conceito de “semiose”, que se refere aos processos de significação e interpretação de signos. A semiose está relacionada à linguagem, símbolos e comunicação.

 3.      Círculo do Dialogismo em rosa: O terceiro círculo representa o “dialogismo”. Aqui, exploramos a interação entre diferentes vozes, perspectivas e discursos. O dialogismo é central na teoria de Bakhtin sobre a linguagem e a literatura.

                                                                           

 

 Elisabet Gonçalves Moreira

(Nos idos de setembro de 2024, margem direita do rio São Francisco)






segunda-feira, 16 de junho de 2025

ENTRE SÉCULOS

                                                                                            Passagem do século XX e do milênio: 1999-2000



2025: 1/4 do século XXI
                         

                                          EU/NÓS

 

1999-2000

Nós vimos a passagem do século e do milênio.

Privilégios e desígnios que agradecemos.

O tempo cósmico ou o tempo contado nos balançou nas expectativas e na realidade do fato. Agradecer a quem? Uma família constituída e palavras ocas de significado. Paz, Amor, Saúde, Sucesso. Bordadas em ponto cruz, registro emoldurado.

2025: ¼ do século XXI

25 anos depois, o que acrescentar?  A fração constata o tempo que se atravessa. O pequeno bordado, agora num bastidor da moda, atualizado com os nomes de uma família ampliada nos traz a realidade fictícia do passado, presente, futuro. Por precaução, as datas do nascimento de cada um.

Em ponto cruz... cruzam-se os dados, talvez os dedos para desejos em continuidade. O que restou?

A ilusão do registro não chama a atenção, vive-se sem atinar para o ciclo dinâmico do que não nos pertence. Apenas duramos...

Elisabet G. Moreira

Petrolina, 27/5/25