Bet com t mudo

Minha foto
BET COM T MUDO... Quem me conhece, reconhece? Já me imagino receptora deste blog. Quem é esta mulher? Quem é esta Eli, Elisa, Betina, Betuska, Betî, resumida numa Bet com t mudo? Esta afirmação diminuta diz (ou desdiz?) uma identidade... Assim, quem sou eu? Sou (sim) uma idealizadora das pessoas, das relações, das amizades, das produções minhas e dos outros. Consequência: um sofrimento que perdura... na mulher crítica que procura saber e tomar consciência finalmente de quem é e do que ainda pode fazer (renascer?!) nesta fase da vida, um envelhecimento em caráter de antecipação do inevitável. Daí a justificativa do blog. Percorrer olhares, visualizar controvérsias, pôr e contrapor, depositar num receptor imaginário (despojá-lo do ideal, já que eu o sou!) uma escrita em que o discurso poderá trazer uma Bet com t falante... LEITURAS, ESCRITAS, SIGNATURAS...

terça-feira, 10 de maio de 2022

CONTO E ENSAIO VERSOS...

 

ATO CONTÍNUO

A menina gostava de ler. Sabia que isso era importante. Quem lia mais, sabia de tudo. E podia impressionar qualquer um.

Onde ler? Para não ser incomodada com o barulho irritante da casa viva, dos irmãos correndo, da mãe sempre a chamando para fazer isso ou aquilo, Corina lia embaixo da cama. Naquele espaço sombreado, sem calor, viajava nas aventuras, beijava nos amores, sentia emoções e comichões que não lhe eram permitidas.

Transportava-se para seu personagem do dia. Um homem relativamente idoso, moreno claro, que lia também. Sem precisar se esconder, lia às claras, mesmo sendo noite, com um abajur em foco sobre o livro encadernado. Sentado confortavelmente numa poltrona que, mesmo reformada, tinha uma aparência de antigo mobiliário. Seus pés repousavam num pufe, parte da poltrona.

A sala de uma pequena biblioteca doméstica estava atulhada de livros nas estantes de alumínio, bem acessíveis no mercado, além de tralhas espalhadas aqui e ali. Um telescópio que nunca foi usado, alguns remédios, caixas com material de pesca, uma placa comemorativa, antigas fitas cassete de cursos de língua que esperavam, há décadas, uma aprendizagem além do primeiro módulo.

Mas ali ele se sentia seguro, sem nada que lhe incomodasse. Corina sabia disso, antevendo um futuro no próximo século. Não era bem o que ela queria, sonhando com um herói de romance, mas a vida lhe ofereceu um leitor. Sem mais ilusões, ele lia um dos muitos diagnósticos da realidade econômica e social, onde teorias da conspiração manipulavam a história.

Corina achegou-se por detrás, procurando seu livro de contos para uma referência, estantes laterais naquele mundo especial de enlevo e prioridades. Não havia muito o que falar entre os dois, só ler. Ela estava exausta de tanta solidão a dois. Nada era mais possível. A vida havia escoado e tudo eram apenas lembranças registradas nos álbuns fotográficos enfileirados na parte inferior da estante mais larga.

Naquele momento ela viu que poderia mudar o destino, se ambos quisessem. Ele não quis. Continuava a ler, como sempre. Não havia nada que pudesse mudar o roteiro.

Então Corina voltou para debaixo da cama.

 Petrolina, junho 2019


                     Há um balanço dos domingos de manhã

                    Amassam-se os sonhos nos volantes conferidos da loteria

                    Quinas, senas, seis jogos diversos

                    Diversos tentos, tento versos

                    O grande prêmio que nunca chega

                    Jogo adiado... jogando.

(16/05/21)

                                               Cultivo antúrios.

                                              De preferência vermelhos.

                                              Há antúrios miniaturas.

                                              Encolheram.

                                              Como os espaços e tempos do hoje

                                              Mas um pênis ereto se eleva prenhe além do verde

                                              Que penso ao vê-los em desafios cotidianos??

21/02/22)

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário