Bet com t mudo

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BET COM T MUDO... Quem me conhece, reconhece? Já me imagino receptora deste blog. Quem é esta mulher? Quem é esta Eli, Elisa, Betina, Betuska, Betî, resumida numa Bet com t mudo? Esta afirmação diminuta diz (ou desdiz?) uma identidade... Assim, quem sou eu? Sou (sim) uma idealizadora das pessoas, das relações, das amizades, das produções minhas e dos outros. Consequência: um sofrimento que perdura... na mulher crítica que procura saber e tomar consciência finalmente de quem é e do que ainda pode fazer (renascer?!) nesta fase da vida, um envelhecimento em caráter de antecipação do inevitável. Daí a justificativa do blog. Percorrer olhares, visualizar controvérsias, pôr e contrapor, depositar num receptor imaginário (despojá-lo do ideal, já que eu o sou!) uma escrita em que o discurso poderá trazer uma Bet com t falante... LEITURAS, ESCRITAS, SIGNATURAS...

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

MARCAS DE FERRAR - SISTEMAS DE SIGNOS EM LEITURAS (I)


Ler os sistemas de signos configura-se, hodiernamente, em representações que podem preencher também os descaminhos dessa dinâmica, no esforço de compreensão da signicidade dos objetos culturais. A semiose, bem o sabemos, está na raiz do conceito de modelização implícito nessa leitura, dado que um signo só pode ser compreendido à luz de outro signo.

Assim, nesta pesquisa, encontrei um estudo instigante. Documentos que comprovam o insólito uso da suástica nazista para marcar o gado na região de Santarém, no Pará, foram apresentados por Joanderson Mesquita, da Universidade Federal do Pará,  para um trabalho de conclusão do curso de História. “Datados de janeiro de 1938, os documentos são autos criminais, registrando o furto de cabeças de animais pertencentes à firma Liebold & Cia., de propriedade do brasileiro Pedro da Silva Motta, e do alemão Artur Johannes Liebold.”[1]


    

Observe o desenho da suástica, logo após a palavra ferro, na segunda e na penúltima frase da foto do documento. Outra história se avizinha nos confins deste Brasil, outros meandros a serem, senão considerados, objeto de reflexões. Tantos caminhos se dão abertos para serem trilhados com cuidado nestes desafios do conhecimento e na dinâmica de sua interpretação. Eu, que comecei este trabalho, intrigada com o desenho de um ferro em desuso, caminhei entre variáveis cujos códigos se interpenetram e nos instigam continuamente.

Por exemplo, o que nos conta esse boi de cor araçá, roubado e ferrado com uma suástica?  A simbologia da cruz suástica, na época e no espaço dessas marcas aí encontradas, na união entre propriedade - uma “firma” - de um brasileiro com um alemão, entre a primeira e a segunda guerra mundial, mostra indicialmente uma expansão ideológica do nazismo em rastros e selvas. Teria a boiada levado avante, na história da própria Amazônia, o significado estrutural desse signo? Apenas um ponto geracional de possibilidades.

Como não lembrar o desafio de Ariano Suassuna, invocando “um Decifrador brasileiro e de gênio!"  Enigmas que se justapõem para os limites desse trabalho.

        No documentário “Menino 23, infâncias perdidas no Brasil”, de 2016, direção de Belisario Franca, a partir das pesquisas do professor historiador Sydney Aguilar Filho, temos esta imagem que não deixa dúvidas do uso da suástica e da ideologia amplamente discutida nos anos 30.

A foto foi tirada diretamente da tela do computador. Veja o vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=M_Bjo7YE9fg (Acesso em 17/10/22)

            O documentário traz evidências e reflexões sobre aspectos pouco divulgados na história de nosso país e de como o nazismo foi tratado com naturalidade, partindo de instâncias do governo e de suas elites conservadoras e poderosas. A suástica marcada no gado representa, no contexto, também a marca violenta da infância perdida de 50 meninos pretos, escravizados e sem futuro, durante os anos 1930, numa fazenda no interior do estado de São Paulo.


            De origem muito antiga, sabe-se que a suástica faz parte de várias culturas ao redor do mundo, com significados diferentes. Seu poder sugestivo é grande porque integra dois símbolos muito efetivos: a cruz de braços iguais e os quatro eixos numa mesma direção rotatória. No Budismo é, inclusive, um símbolo de boa sorte.


            A escolha do símbolo para o Partido Nazista, em 1920, foi justificada por Hitler em seu livro “Minha Luta”. De acordo com o líder nazista, a suástica teria a capacidade de representar a luta em prol do triunfo do homem ariano e o desenvolvimento da nação alemã por meio da campanha antissemita. Em seguida à derrota da Alemanha nazista em 1945, os governos dos países aliados legislaram tornando ilegais as organizações nazistas.  Seus símbolos e sua propaganda foram removidos e sua disseminação foi criminalizada. 


            Assim, o desenho/símbolo da suástica (cruz gamada), na atualidade, tem uma associação imediata e generalizada com o nazismo de Hitler. Mas também é visto como uma preocupante incitação ao ódio, sobretudo porque vem sendo usado com certa regularidade por grupos extremistas de direita. 


                Não há mais ingenuidade possível sobre o caráter ideológico do nazismo e suas facetas. Inclusive, é lei: "torna crime fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propagandas que utilizem a cruz suástica ou quaisquer outras referências ao nazismo ou ao fascismo."   (https://www.jusbrasil.com.br/artigos/exibir-ou-publicar-uma-suastica-e-crime/862157642)

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(Aguarde continuação:  Neste estudo de marcas de ferrar gado, registramos que até mesmo algumas etnias indígenas delas fizeram uso, como é o caso dos Guaicurus, indígenas cavaleiros do Mato Grosso do Sul e de seus remanescentes, os Kadiwéus, estudados pelo antropólogo italiano Guido Boggiani (1861-1902), Claude Lévi-Strauss (1908-2009) e o brasileiro Darcy Ribeiro (1922-1997).Todos eles destacaram a estética de suas marcas, bem como seu uso em animais e objetos, como uma maneira de reconhecer uma propriedade individual.)