Bet com t mudo

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BET COM T MUDO... Quem me conhece, reconhece? Já me imagino receptora deste blog. Quem é esta mulher? Quem é esta Eli, Elisa, Betina, Betuska, Betî, resumida numa Bet com t mudo? Esta afirmação diminuta diz (ou desdiz?) uma identidade... Assim, quem sou eu? Sou (sim) uma idealizadora das pessoas, das relações, das amizades, das produções minhas e dos outros. Consequência: um sofrimento que perdura... na mulher crítica que procura saber e tomar consciência finalmente de quem é e do que ainda pode fazer (renascer?!) nesta fase da vida, um envelhecimento em caráter de antecipação do inevitável. Daí a justificativa do blog. Percorrer olhares, visualizar controvérsias, pôr e contrapor, depositar num receptor imaginário (despojá-lo do ideal, já que eu o sou!) uma escrita em que o discurso poderá trazer uma Bet com t falante... LEITURAS, ESCRITAS, SIGNATURAS...

domingo, 23 de fevereiro de 2020

RADICALIZAR A DEMOCRACIA



Como adjetivamos uma pessoa?

Rotulamos em geral com prejulgamentos, estereótipos, manipulação... para o bem e para o mal. Convivemos diariamente com este tipo de discurso, alicerçado tanto pelo entorno ideológico, pela mídia insana, como pelo que assumimos individualmente. Ignorantes ou alienados, acomodados no senso comum, acredito que uma boa dose de reflexão pode ajudar, se tivermos em conta que tudo é relativo e que é preciso pesquisar, procurar no conhecimento algo mais que o mero impressionismo ou a falsa interpretação.

Então, como adjetivar Zé Dirceu??? Ele que esteve aqui em Petrolina dia 19, falou e lançou seu livro Zé Dirceu:  Memórias (São Paulo: Geração Editorial, 2018, v. 1) é a referência. Uma de minhas filhas comentou “...sempre achei Dirceu uma figura obscura.” Essa opinião acendeu o mote para minhas conjeturas. Não há dúvidas de que, neste momento de barbárie em que vivemos, Zé Dirceu tenta clarear seu percurso histórico. Não faltam expectativas no ar...

Pela visita do homem agora com 73 anos – nascemos no mesmo ano – também ativei minhas memórias dos tempos de estudante na USP, quando participei das lutas estudantis contra a ditadura militar instalada em nosso belo país de tantas desigualdades. E que perduram...

Nas assembleias, Zé Dirceu era um dos líderes sem dúvidas. Havia muitos deles, muita desconfiança, mas o objetivo comum nos unia. O livro de Zé me fez recordar de sua atuação e de outros companheiros, dos embates dos partidos comunistas, das greves, das passeatas, das perseguições, do medo das torturas e da esperança de mudar a história.  Acompanhar essa narrativa é uma maneira de compreender aquilo que ficou conhecido como “anos de chumbo”. E que alguns ainda têm a ousadia de contestar.

Evidente que o livro vai além destes inícios da juventude, detalhando fatos e atuação política no decorrer dos anos 70 até hoje. Não vou querer justificar atitudes, erros e acertos. É o hoje que me mobiliza, no discurso e na prática.

Já na orelha do livro de Zé Dirceu, seu editor, abaixo da chamada “72 anos de som e fúria”, o adjetiva: “personagem épico e controvertido”, “Tanto se escreveu sobre José Dirceu que ele se tornou uma espécie de lenda. Para muitos, um herói; para militantes do PT e de grupos de esquerda, o “comandante”; para o procurador da República que, sem provas, apenas com “convicções”, pediu sua condenação, um “chefe de quadrilha”; para os juízes que o condenaram em primeira e segunda instância, culpado por crimes que nem sequer conseguiram definir com clareza.”

No livro A VERDADE VENCERÁ O povo sabe por que me condenam/Luiz Inácio Lula da Silva [et al]; organização Ivana Jinkings – 1. Ed. – São Paulo:  Boitempo, 2018, o ex-presidente assim se refere a Zé Dirceu, quando questionado sobre a trama do Mensalão. “Eu acho que o José Dirceu é um guerreiro. Acho que, às vezes, ele não cuida da própria imagem. Mas é um homem de muita dignidade e é um companheiro que soube enfrentar de cabeça erguida todo esse processo que está sofrendo.” (página 80).

O recado dele, que ficou muito claro para mim, neste momento, ao final de sua fala no Café Filosófico, foi “radicalizar a democracia”. Não foi isso o que ele sempre fez? Parece contraditório ao protótipo conceitual de democracia, mas há uma farsa em andamento, sob os auspícios de um presidente eleito. Não dá para desenvolver opiniões sobre este fato, tantas são, mas no ponto em que chegamos, de militarização crescente e o protagonismo evangélico de cunho fanático, sim, precisamos radicalizar a democracia.


Foto de Chico Egídio. Zé Dirceu e eu, no Café de Bule em Petrolina.

Não temos receitas fáceis, nem Dirceu as deu. Mobilização em todas as frentes, indispensável e urgente. Entendo que estratégias e procedimentos serão construídos cotidianamente. Sem esmorecer, sem apatia. Gostei, por exemplo, quando ele deu uma referência que eu, feminista histórica nestas margens, passo a cogitar. Assim como as “avós” argentinas da Praça de Maio lutaram contra ditadura, temos as “mães” do Bolsa Família... Sim, no desmonte atual deste programa exemplar, mais que um protesto, uma conscientização dessas mães certamente faria diferença no contexto de exclusão social e da pobreza “em vertigem”.

Como se organizar então para o embate político de novas eleições neste ano de 2020?

Responde pela regra geral o Zé Dirceu: “(com)...novas formas de luta e de organização ... é preciso ir ao povo trabalhador e organizar sua luta social e política. Responder à radicalização da direita com luta política e social e um programa, como eles fazem, que vá à raiz da questão nacional, democrática e social.” E essa “retomada da luta política e social e do fracasso político e eleitoral da direita, que, para vencer, tem que banir Lula e o PT da vida política e social, o que não conseguiram e não conseguirão.” (página 466)

Não existe somente o PT como partido político de esquerda, mas o que ele representou para a história do Brasil e o que realizou econômica e socialmente, não pode ser desmontado como está sendo feito por este governo de extrema direita, de cunho militarista, atrelado aos interesses norte-americanos e ao neoliberalismo nitidamente fascista.

Questionamentos feitos, compartilho compromissos de quem sabe – ou saberá – se posicionar.  Como adjetivamos a nós mesmos???




Petrolina, 23 de fevereiro de 2020










4 comentários:

  1. Excelente como sempre Bet, nao pude ir ao lançamento mas me contento com suas inquietações, a democracia vem descendo a ladeira faz tempo, é realmente preciso resgatá-la pois.

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  2. Gostei muito do texto e acho que já perdemos muito tempo com discussões e mensagens no face e whatzap, vamos a luta!

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    1. Desconhecido, obrigada. Concordamos. Mobilização e organização. Não fazemos isso sozinhos... unidos venceremos.

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