Bet com t mudo

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BET COM T MUDO... Quem me conhece, reconhece? Já me imagino receptora deste blog. Quem é esta mulher? Quem é esta Eli, Elisa, Betina, Betuska, Betî, resumida numa Bet com t mudo? Esta afirmação diminuta diz (ou desdiz?) uma identidade... Assim, quem sou eu? Sou (sim) uma idealizadora das pessoas, das relações, das amizades, das produções minhas e dos outros. Consequência: um sofrimento que perdura... na mulher crítica que procura saber e tomar consciência finalmente de quem é e do que ainda pode fazer (renascer?!) nesta fase da vida, um envelhecimento em caráter de antecipação do inevitável. Daí a justificativa do blog. Percorrer olhares, visualizar controvérsias, pôr e contrapor, depositar num receptor imaginário (despojá-lo do ideal, já que eu o sou!) uma escrita em que o discurso poderá trazer uma Bet com t falante... LEITURAS, ESCRITAS, SIGNATURAS...

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O NARCISO QUE NOS HABITA


Todos queremos sair bem na foto... no automatismo dos celulares tiramos fotos e fotos, desencadeando cliques... sim, escolher a melhor foto, o melhor ângulo; esse é o atual recado mestre, seja em casa, seja na festa, seja no restaurante. E a revelação da escolha é feita na hora; apagamos sem culpas o que não é espelho. Caetano nos alertou há tempos...

Lembro de uma tia que estava sempre insatisfeita com suas fotos, achando que “saí horrível”... e era ela, tão somente ela. Aprendi a ser mais condescendente com minha imagem... sim, já saí mais bonita, mas, desse jeito, ainda sou eu. Ou fui...

Nas fotos selfies, há um deslocamento da pessoa para o aparelho. Ele é o foco, fazendo parte de um braço estendido. Momentos e fatos, até na intimidade do espelho do guarda-roupa, guarda-se também a imagem do que nos propusemos a mostrar, a compartilhar. Nada disso é novidade, apenas reitero o quanto Narciso - o mito - está presente em nosso reflexo idealizado. Ou no exibicionismo... Sim, o mundo nos cobra estarmos sempre bem, lindos e felizes.

Narciso na internet - Pawel Kuczynski

A Psicologia e sua irmã, a Psicanálise, tratam disso como possível reflexo doentio, mas se não nos amarmos, quem o fará? E lá vem auto-ajuda... A aceitação de si mesmo, nossa pluralidade, as metamorfoses por que passamos, mais do que representações: revelações.

Pintores consagrados, e outros nem tanto, também pintaram auto-retratos... Lembro dos vários auto-retratos de Van Gogh (35!)  onde cores e olhares se mesclam na intimidade deste conhecer. Tomo a lição de vida, mais do que a do mito. Ainda que pintar a si mesmo saia mais barato do que pagar a um modelo (ou a um artista), a complexidade não é facilitada. "As fotos se desvanecem muito antes de nós, enquanto os retratos pintados são algo que se sente, que fazemos com amor ou respeito pelo ser humano sendo retratado", declarou.

Mesmo quando se retratou após ter cortado sua orelha, num lance próximo ao final, Van Gogh traz essa lição para perto. "É difícil conhecer-se a si mesmo, mas também não é fácil pintar [seu próprio retrato]".


Retratos de Van Gogh (1853-1890)

 O primeiro é uma fotografia, a única que dele se conhece, ainda jovem. Os outros foram pintados e/ou desenhados por ele, já adulto e quase no final de sua vida.

O que é a realidade e o que é a representação? Fotografia é também subjetividade. Conhecemos Van Gogh não pela sua única foto, mas, sim, como ele se retratou, esse contraste do amarelo da barba ruiva e o azul em vários tons... Ele nos olha e procura nosso olhar, assim como se olhou...

Eu mesma, que gosto de desenhar e pintar retratos dos outros, com a facilidade de termos uma fotografia a nosso lado, desisti, pois, como minha tia, a maioria não gosta de como ali se vê... ou o outro a viu. Nem a técnica (ou a falta de talento) da pintura realista dá conta desta autocobrança. Mas eu tentei... nos limites do meu pouco talento. Corajosa sou neste momento em expor...

Positivo ou Negativo?    Primeira reflexão, óleo sobre tela, 42 x 54 cm, ano de 2005 

                                                                                    

Questionando – óleo sobre tela – colagem e uso de giz -40 x 50 cm - ano 2007


Tentando e testando...
Inacabada - lápis HB sobre papel - 2019 ?    Bet com chapéu – lápis de cor sobre tecido – 2016    Mini - óculos vermelhos – óleo sobre tela - 2016  Serena – lápis pastel sobre papel A4 – 2014  
    
                                              
        

Pensando se continuo... ainda não me completei.

...oooOooo...

Na busca de nós mesmas, a lição poética de Mário Quintana era tudo que eu desejaria.

 

MARIO QUINTANA – O AUTO RETRATO

No retrato que me faço
— traço a traço —
Às vezes me pinto nuvem,
Às vezes me pinto árvore…

Às vezes me pinto coisas
De que nem há mais lembrança…
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão…

E, desta lida, em que busco
— pouco a pouco —
Minha eterna semelhança,

No final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!


Nota de rodapé: Editar fotos e textos neste blog não é fácil... desculpem, gostaria que ficassem melhor.

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