Bet com t mudo

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BET COM T MUDO... Quem me conhece, reconhece? Já me imagino receptora deste blog. Quem é esta mulher? Quem é esta Eli, Elisa, Betina, Betuska, Betî, resumida numa Bet com t mudo? Esta afirmação diminuta diz (ou desdiz?) uma identidade... Assim, quem sou eu? Sou (sim) uma idealizadora das pessoas, das relações, das amizades, das produções minhas e dos outros. Consequência: um sofrimento que perdura... na mulher crítica que procura saber e tomar consciência finalmente de quem é e do que ainda pode fazer (renascer?!) nesta fase da vida, um envelhecimento em caráter de antecipação do inevitável. Daí a justificativa do blog. Percorrer olhares, visualizar controvérsias, pôr e contrapor, depositar num receptor imaginário (despojá-lo do ideal, já que eu o sou!) uma escrita em que o discurso poderá trazer uma Bet com t falante... LEITURAS, ESCRITAS, SIGNATURAS...

sábado, 31 de dezembro de 2022

POR QUE NÃO VI PELÉ JOGAR...

 

Pelé nasceu em 1940, eu, essa que vos escreve, em 1946... A glória do futebol começou aos 17 anos para ele, na primeira copa de vindouros anos, na longínqua Suécia, no título e na marca inesquecível, do 5 a 2... Desde meus 12 anos jamais esqueci a referência e a origem dessa glória. Eu, sim senhor, que nunca me liguei muito em futebol...

Meu pai começou a torcer pelo Santos Futebol Clube, certamente por causa de Pelé, como muitos outros brasileiros. Vitória após vitória em décadas e a consagração de seu talento. Moramos algum tempo no Largo das Perdizes, em São Paulo, relativamente próximo ao Estádio do Morumbi. Então, ele não perdia um jogo do Santos e vibrava com as jogadas, dribles e gols de Pelé. E ainda assistia pela TV reprises de jogos ou reportagens sobre o ídolo.

Éramos amigos, meu pai e eu, e ele gostava de minha companhia, penso. Desde mocinha, no interior, me levava ao cinema, geralmente às quartas-feiras, quando passava películas estrangeiras ou filmes antigos, diferente dos bang-bangs e sucessos hollydianos dos finais de semana. Ele me convidava também para ir ao estádio, mas eu, a essa altura, moça feita, com um namorado “firme”, não aceitava. Irritada e enciumada, pois ambos iam juntos,  preferia ficar em casa.

Não foi esnobismo portanto, mas, por um bom tempo me arrependi de ter perdido a oportunidade de ver o grande Pelé em campo, lugar onde, realmente, nessa mania nostálgica de realeza, foi majestade... Mais tarde tentei me justificar, pois o homem Edson Arantes teve atitudes bem diferentes da nobreza idealizada, quando renegou sua filha fora do casamento, ou, quando soube de outras ações bastante questionáveis, celebridade que se tornou. Inclusive porque havia uma bifurcação de identidade, pois ele mesmo se referia a Pelé em terceira pessoa e eu estranhava isso, mas criticamente não o absolvia... Hoje, sou mais condescendente, entendendo melhor a ambiguidade da natureza humana.

Oriundo de família pobre, negro, sem maiores estudos, Pelé encarnou o mito do jogador excepcional, bajulado pela imprensa e pela mídia que só lhe salientavam qualidades, assegurando seu papel de destaque e sua ascensão vitoriosa por décadas, celebridade no mundo de celebridades. Inclusive, em algumas reportagens especiais, salienta-se também o papel do filantropo humanitário, além de sua naturalidade e trato cordial com pessoas das mais diversas camadas sociais. Um ídolo, um ícone, um rei... diversos epítetos e exaltação de um ser humano invulgar.

Como já analisou o ensaísta Edgar Morin, sai de cena o herói trágico dos mitos antigos e entra em seu lugar o herói amado, aquele que faz parte da realidade com elementos de um ideal imaginário, estimulado pela identificação do público em diversas instâncias, os modernos heróis “olimpianos”. Modelos de vida, representam os mitos da autorrealização. Sim, neste sentido, Pelé encarna este modelo. Reconhecidamente um talentoso jogador de futebol, foi um campeão memorável neste clima competitivo dos espetáculos midiáticos de jogos e campeonatos em série e da sustentabilidade da imagem de um ídolo contemporâneo.

Porém, como mulher, aproveito destas digitadas linhas para acrescentar que meus olhos se ar(regalavam) com aquele espetáculo - ainda que televisivo - da masculinidade exalada no conjunto dos times de futebol... com as pernas de fora, em tempos de shorts e não aqueles horrorosos calções de hoje. Acho que, por isso, os jogadores atuais querem se projetar nos cortes de cabelo, sobrancelhas e tatuagens...

Santos x Fluminense (1961)

(https://www.vavel.com/br/futebol/2017/05/12/fluminense/787109-flu-x-santos-criacao-da-expressao-gol-de-placa.html)

Tenho também outra lembrança de Pelé, uma foto admirável, mas que não encontrei nesta enciclopédica galeria google, nem lembro o autor ou o veículo em que foi divulgada. Talvez alguns se recordem desta foto, Pelé no vestiário, aquele corpo negro (sim, uma perfeição) coberto por uma contrastante espuma branca. Talvez vejam alguma semelhança nesta foto... o jovem atleta flagrado em seu banho. Vendo o ídolo pelo seu lado humano, como todos nós.


(https://twitter.com/pele/status/1160255893465903105)

Para finalizar, algumas considerações sobre o Pelé mitificado. Neste século XXI, a banalização do papel do mito em nossa cultura, hoje midiática e consumista de ídolos descartáveis, me faz pensar no que Pelé significa, a durabilidade de sua projeção, neste momento simbólico de sua partida, no jogo inadiável da finitude humana.

Portanto, neste rol de homenagens e elegias para Pelé, o atleta, vamos acompanhando o significado de um herói brasileiro que transmite orgulho para seu público e que, sem dúvidas, marca a história futebolística mundial.

Elisabet Gonçalves Moreira

Petrolina, 30/12/2022


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