Bet com t mudo

Minha foto
BET COM T MUDO... Quem me conhece, reconhece? Já me imagino receptora deste blog. Quem é esta mulher? Quem é esta Eli, Elisa, Betina, Betuska, Betî, resumida numa Bet com t mudo? Esta afirmação diminuta diz (ou desdiz?) uma identidade... Assim, quem sou eu? Sou (sim) uma idealizadora das pessoas, das relações, das amizades, das produções minhas e dos outros. Consequência: um sofrimento que perdura... na mulher crítica que procura saber e tomar consciência finalmente de quem é e do que ainda pode fazer (renascer?!) nesta fase da vida, um envelhecimento em caráter de antecipação do inevitável. Daí a justificativa do blog. Percorrer olhares, visualizar controvérsias, pôr e contrapor, depositar num receptor imaginário (despojá-lo do ideal, já que eu o sou!) uma escrita em que o discurso poderá trazer uma Bet com t falante... LEITURAS, ESCRITAS, SIGNATURAS...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

LITERATURA/ ANÁLISE LITERÁRIA: COORDENADAS POSSÍVEIS

 Justificando a postagem: 

Este texto foi refeito em 4/12/21, para complementar “conversa” no Tear Literário/UPE, assim divulgado  no card do convite. O título dado à minha fala é muito bom, mas só vim a saber dele na véspera. Haviam me dado alguns motes, falar sobre literatura, crítica literária e até mesmo minha escrita. Então recuperei textos e fiz um power point bem didático que, depois, vou também escrever e colocar no blog. Reconheço que este texto poderia ser mais desenvolvido, por isso o subtítulo "Coordenadas Possíveis". Agradeço comentários...


            Análise, segundo os dicionários, em seu significado básico, denotativo, é a separação de um todo em seus elementos constitutivos (em oposição a síntese). Assim, esse processo é visto como método de estudo da natureza de alguma coisa ou da determinação de suas características essenciais e suas relações. Sem dúvidas, já fizemos análise sintática, por exemplo, em nossos estudos de gramática.

         No entanto, essa caracterização como literária, modificando a palavra análise, delimita e direciona nosso trabalho. Literária vem de literatura. Portanto, é preciso, neste caso, saber o que é literatura para entender o seu alcance como análise literária.

         Literatura não é fácil de ser definida, bem o sabemos. Não estamos lidando com ciências exatas, mas com conceitos dentro das chamadas ciências humanas que carregam grande carga de subjetividade, baseadas na ideologia e visão do mundo de quem as manipula, atreladas à historicidade e evolução destes mesmos conceitos.

         Assim, Literatura, em sentido amplo, é a arte da palavra.  Escrita ou oral, não importa. Mas, o que é mesmo arte? As questões se ampliam, gerando mais e mais conceitos e (in)definições na esfera subjetiva de ver e sentir a arte como necessidade humana em suas múltiplas possibilidades de representação e dar sentido a nossas vidas.

A história literária se ocupou muito em classificações, de prosa ou poesia nos seus diversos gêneros como poemas líricos, de narrativas como epopeias, lendas, contos, romances e formas que não se enquadram em nenhuma classificação tradicional, oscilando em seus limites. Há enorme diversidade, além da interação de linguagens e de outras artes.

         Na verdade, os estudos modernos da Literatura, aliados sobretudo aos estudos de Linguística e da Semiótica, trouxeram a ideia mais abrangente de generalização como texto, onde se podem “ler” diversas linguagens e pontos de vista.

Análise literária e crítica literária

          Embora possam ser consideradas disciplinas isoladas, dentro dos estudos literários em geral ou da Teoria da Literatura, a análise e a crítica literária estão muito próximas. Para se fazer uma crítica, com o mínimo de legitimação, há que se analisar. E crítica conota julgamento do mérito de um trabalho qualquer, destacando virtudes e defeitos quando não somente a ideia de que crítica é sempre uma apreciação desfavorável, uma condenação ou uma reprovação, algo que deve ser completamente afastado numa visão moderna dos estudos literários.

         A relação entre as duas disciplinas é porque praticamente a análise literária leva a uma crítica, na medida em que, ao se “desmontar” um texto ou decodificá-lo, serve para mostrar as qualidades ou defeitos deste texto. Escolher um texto para análise já implica numa primeira crítica, na medida em que ele leva a uma intenção ou significa mais que outro.

A imanência na análise de texto; o espaço da leitura

         Nossa postura é que qualquer análise de texto é imanente, isto é, parte sempre de dentro do próprio texto para as relações extratextuais. Portanto, é basicamente um exercício de leitura. Há vários tipos de leitura e de leitores. Neste caso, somos um leitor especial, com uma formação epistemológica em Letras, na maioria das vezes, e um objetivo de avaliação, em que o texto é a referência constante, não só como objeto da análise mas como sujeito, isto é, não se enquadrar prioritariamente em teorias, mas, sim, teorias que surgem a partir da própria leitura.

Procurar sua “literariedade”, como formulou Roman Jakobson, isto é, o que faz dele ser literário. Não existem fórmulas prontas, existem caminhos. Cada texto é um texto e, em sua verdade, ele é quem conduzirá a análise. A análise não pode ser separada da síntese, procedimentos dialéticos que conduzem a análises dignas de crédito porque demonstram o a estrutura e o funcionamento do texto literário em sua dinâmica própria.

A análise literária é também criação

         Você, como decodificador, tem na desconstrução imanente do texto a possibilidade de um usufruto também criativo, na medida em que o resultado pode ser a produção de um texto de sua autoria, confiável, e não uma opinião meramente impressionista. Percebendo a obra como um ato de comunicação, o receptor/leitor estabelece um diálogo interativo com a obra e sua autoria. Lembrar que somos seres sociais, interagindo culturalmente

Existe um método de análise literária

         Há vários. Assim como existe uma história da literatura, existe uma história da crítica literária, de metodologias, de procedimentos para se estudar a literatura, para compreender este fenômeno criativo do ser humano. Não se pretende dar “receitas”, mas mostrar possibilidades de leituras, de análises críticas e criativas como consequência. Aqui já se explicitaram algumas coordenadas, o resto é com você. Você faz o método servir a você e não o contrário; ficar amarrado a modelos só limitam. Procure, portanto, seu próprio modelo. Cada texto é um texto, singular em sua essência, assim como cada análise é uma análise.

Qual a utilidade em se fazer análise literária?

        Para os pragmáticos, existe análise literária como profissão. Jornais, revistas apresentam críticas ou resenhas críticas. Mas se você é um professor, ou aluno, os conhecimentos de análise literária muito o auxiliarão no descobrir do literário, do fazer poético. Não se prenderá a críticas preestabelecidas ou julgamentos preconceituosos, terá um aval muito maior, porque terá capacidade de mostrar no funcionamento da própria obra como o poético se instaura, a criatividade, o estilo do escritor, sua grandeza e imortalidade. Ver e sentir a obra literária como cultura e como ato de comunicação especial, particular. Não entra em questão somente o gosto, antes todo um complexo cultural que é levado também em conta, o gênero, a história, o escritor em inter-relação. Compreender a estrutura artística como um processo em dinâmica com objetividade e suscetibilidade ao mesmo tempo. Nesse sentido é estar sempre atento ao presente, às novas situações de produção. Tomar lições do passado e construir talvez um método próprio, mas adequado ao momento em que se vive.

 INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS GERAIS

(checar reedições/pdf)

 

Nota de admiração: Fui aluna de Cândido e estava em sala de aula quando ele analisou o poema "Rondó dos Cavalinhos" de Manuel Bandeira, que consta do livro acima.

CANDIDO, Antônio. Na sala de aula, Caderno de análise literária.  São Paulo: Ática.

 EAGLETON, TerryTeoria da Literatura – uma introdução. São Paulo: Martins Fontes; 4ª edição

EIKHENBAUN e outros. Teoria da Literatura - formalistas russos.

LOTMAN, Iuri. A estrutura do texto artístico.

 PESSOA DE BARROS, Diana Luz. Teoria semiótica do texto.

 STAM, Robert. Bahhtin. Da teoria literária à cultura de massa.

 TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas.

 ZILBERMAN, Regina. Estética da Recepção e História da Literatura.

 

 Elisabet Gonçalves Moreira é mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP. Aposentada como professora na UPE – Universidade de Pernambuco e IF Sertão.