Ler os sistemas de signos configura-se, hodiernamente, em representações que podem preencher também os descaminhos dessa dinâmica, no esforço de compreensão da signicidade dos objetos culturais. A semiose, bem o sabemos, está na raiz do conceito de modelização implícito nessa leitura, dado que um signo só pode ser compreendido à luz de outro signo.
Assim, nesta pesquisa, encontrei um estudo instigante. Documentos que comprovam o insólito uso da suástica nazista para marcar o gado na região de Santarém, no Pará, foram apresentados por Joanderson Mesquita, da Universidade Federal do Pará, para um trabalho de conclusão do curso de História. “Datados de janeiro de 1938, os documentos são autos criminais, registrando o furto de cabeças de animais pertencentes à firma Liebold & Cia., de propriedade do brasileiro Pedro da Silva Motta, e do alemão Artur Johannes Liebold.”[1]
Por exemplo, o que nos conta esse boi de cor araçá, roubado e ferrado com uma suástica? A simbologia da cruz suástica, na época e no espaço dessas marcas aí encontradas, na união entre propriedade - uma “firma” - de um brasileiro com um alemão, entre a primeira e a segunda guerra mundial, mostra indicialmente uma expansão ideológica do nazismo em rastros e selvas. Teria a boiada levado avante, na história da própria Amazônia, o significado estrutural desse signo? Apenas um ponto geracional de possibilidades.
Como não lembrar o desafio de Ariano Suassuna, invocando “um Decifrador brasileiro e de gênio!" Enigmas que se justapõem para os limites desse trabalho.
No documentário
“Menino 23, infâncias perdidas no Brasil”, de 2016, direção de Belisario
Franca, a partir das pesquisas do professor historiador Sydney Aguilar Filho,
temos esta imagem que não deixa dúvidas do uso da suástica e da ideologia
amplamente discutida nos anos 30.
O documentário traz evidências e reflexões sobre aspectos pouco divulgados na história de nosso país e de como o nazismo foi tratado com naturalidade, partindo de instâncias do governo e de suas elites conservadoras e poderosas. A suástica marcada no gado representa, no contexto, também a marca violenta da infância perdida de 50 meninos pretos, escravizados e sem futuro, durante os anos 1930, numa fazenda no interior do estado de São Paulo.
De origem muito antiga, sabe-se que a
suástica faz parte de várias culturas ao redor do mundo, com significados
diferentes. Seu poder sugestivo é grande porque integra dois símbolos muito
efetivos: a cruz de braços iguais e os quatro eixos numa mesma direção
rotatória. No Budismo é, inclusive, um símbolo de boa sorte.
A escolha do símbolo para o Partido
Nazista, em 1920, foi justificada por Hitler em seu livro “Minha Luta”. De
acordo com o líder nazista, a suástica teria a capacidade de representar a luta
em prol do triunfo do homem ariano e o desenvolvimento da nação alemã por meio
da campanha antissemita. Em seguida à derrota da Alemanha nazista em 1945, os
governos dos países aliados legislaram tornando ilegais as organizações
nazistas. Seus símbolos e sua propaganda foram removidos e sua
disseminação foi criminalizada.
Assim, o desenho/símbolo da suástica
(cruz gamada), na atualidade, tem uma associação imediata e generalizada com o
nazismo de Hitler. Mas também é visto como uma preocupante incitação ao ódio, sobretudo
porque vem sendo usado com certa regularidade por grupos extremistas de direita.
Não há mais ingenuidade possível sobre o caráter ideológico do nazismo e suas facetas. Inclusive, é lei: "torna crime fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propagandas que utilizem a cruz suástica ou quaisquer outras referências ao nazismo ou ao fascismo." (https://www.jusbrasil.com.br/artigos/exibir-ou-publicar-uma-suastica-e-crime/862157642)
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