Entreouvido
(Esse telefone que não me deixa
dormir depois do almoço... aposto que é para Zulmira. Quase todo dia esse
namorado liga, assim também já é demais.)
Maria da Conceição pensa em desligar, mas a curiosidade mata... Ou ensina.
Ei Zu, é hoje o combinado, certo?
(Ai que reconheço esta voz... é o policial, o que veio morar na casa que era de seu Fonseca.)
Certo Manoel, a gente se encontra no mesmo lugar?
Claro, sua besta, e nem pense em faltar. Tenho uns trampos com o táxi depois do serviço.
Eu só tenho que passar em casa.
Pra quê?
Calma, amor, eu preciso deixar os meninos com minha mãe.
Tá bom, tá certo. Mas não quero saber de perrengue.
Sei sim, mas também tô sabendo que você anda com a Socorro, que trabalha na casa de Dona Carmem. Pensa que não sei.
(Ops, este cabra não é casado? Filho da mãe...)
Vai te catar... você não tem nada a ver com isso.
É, pois na rua tão dizendo que você também está saindo com Dodora... Olha, não pense que sou besta não.
(Safado!)
Zulmira, não tô de brincadeira, olha lá, se não te meto uns tabefes. Vai se encontrar comigo e me leve o que te pedi.
Já comprei o maço de cigarros, mas tô sem dinheiro agora.
Não quero nem saber, traga o cigarro e os 50, do contrário já sabe. Nem sua cara feia, sem dentes, eu quero mais. Tô sem tempo e sem paciência.
(Santo Deus! E eu que pensei que fosse só um namorado!)
Maria da Conceição coloca o fone no aparelho... O mundo real lhe cochicha antes do cochilo que se pretendia cotidiano.
Narradora eu, inverto o que o velho Machado de Assis ironizava em “a moral é uma, os pecados são diferentes”: os pecados são iguais, a moral é que faz a diferença...
ELISABET GONÇALVES MOREIRAMaria da Conceição pensa em desligar, mas a curiosidade mata... Ou ensina.
Ei Zu, é hoje o combinado, certo?
(Ai que reconheço esta voz... é o policial, o que veio morar na casa que era de seu Fonseca.)
Certo Manoel, a gente se encontra no mesmo lugar?
Claro, sua besta, e nem pense em faltar. Tenho uns trampos com o táxi depois do serviço.
Eu só tenho que passar em casa.
Pra quê?
Calma, amor, eu preciso deixar os meninos com minha mãe.
Tá bom, tá certo. Mas não quero saber de perrengue.
Sei sim, mas também tô sabendo que você anda com a Socorro, que trabalha na casa de Dona Carmem. Pensa que não sei.
(Ops, este cabra não é casado? Filho da mãe...)
Vai te catar... você não tem nada a ver com isso.
É, pois na rua tão dizendo que você também está saindo com Dodora... Olha, não pense que sou besta não.
(Safado!)
Zulmira, não tô de brincadeira, olha lá, se não te meto uns tabefes. Vai se encontrar comigo e me leve o que te pedi.
Já comprei o maço de cigarros, mas tô sem dinheiro agora.
Não quero nem saber, traga o cigarro e os 50, do contrário já sabe. Nem sua cara feia, sem dentes, eu quero mais. Tô sem tempo e sem paciência.
(Santo Deus! E eu que pensei que fosse só um namorado!)
Maria da Conceição coloca o fone no aparelho... O mundo real lhe cochicha antes do cochilo que se pretendia cotidiano.
Narradora eu, inverto o que o velho Machado de Assis ironizava em “a moral é uma, os pecados são diferentes”: os pecados são iguais, a moral é que faz a diferença...
Petrolina, 4 de março de 2014.