Na história de
Petrolina, um grupo teatral: TPA – Teatro Popular de Arte, 1989-2019, em
homenagem. Parabéns preliminares aos envolvidos diretamente e ao SESC local que,
no seu Aldeia de todos os agostos, se refere ao Velho Chico para aplaudir a
arte de suas margens.
Mas vem o pensar, o
querer desvendar. Por que Teatro Popular de Arte?
Há uma
postura estética e ideológica significativa na colocação da palavra Popular.
Usada
como adjetivo da palavra teatro, nos remete a uma visão da arte cênica voltada
para o povo, em contraponto com o teatro erudito, das elites, restrito a uma
classe de maior poder aquisitivo e cultural. Sabemos o quanto isto é discutível,
mas, no senso comum, esse é seu significado básico. Então teria sido esta a
proposta inicial e motivadora do grupo?
Explícito está na
divulgação dos princípios básicos fundamentais do TPA, o de “possibilitar o
acesso de todas as camadas sociais aos seus espetáculos” e “produzir
espetáculos de arte”.
Em 1989, no contexto
nacional e político, foram realizadas as primeiras eleições presidenciais
diretas desde 1960, após a repressão militar que marcou pessoas e mentes. Não
esquecer também a mobilização popular que resultou na Constituição Cidadã de
1988. Assim, é perfeitamente justificável este adjetivo pela pretendida democratização
no acesso ao teatro.
E se tivessem definido
como TAP – Teatro de Arte Popular?
A proposta seria
diferenciada. Entendo que há uma delimitação dirigida ao papel da arte
acompanhada com a palavra popular. Exemplo: uma manifestação legítima da
cultura popular, “folclórica”, como um reisado, tem outra conotação neste
conceito de “teatro de arte popular” para um grupo urbano, criado especialmente
para fazer teatro, utilizando peças consagradas.
O significado do nome
assumido, TPA, é, pois, indicativo da escolha dos espetáculos, ou de seu
repertório, com um histórico de sucesso admirável. Nesses 30 anos o grupo consolidou-se,
garantindo plateia, aplausos, risos e emoções.
Melhor entendo também a
continuidade do TPA. Todos os participantes se engajam na proposta. E isso
faz(fez) toda a diferença. Sabemos que o teatro, arte efêmera, evento único, só
se realiza, inteira e completa no momento presente. Assim, como um coletivo,
todas as plurifunções de um espetáculo se entrelaçam no desempenho responsável
de todos.
O TPA, nesta Petrolina
provinciana, foi inteligente para perceber a capacidade comunicativa e
desmistificadora do teatro, de amealhar o público local para uma linguagem onde
ele se reconhece. Ainda que não tenham criado espetáculos de sua autoria,
souberam escolher as peças e autores.
Ariano Suassuna e sua
representação do Nordeste é o autor mais encenado pelo grupo. O riso é a
catarse em que se desnudam as máscaras sociais, o Brasil autoritário e
preconceituoso.
Consolidada esta visão,
outras peças e autores foram sendo apreciadas e encenadas. Então vieram ao
palco Gianfrancesco Guarnieri, Dias Gomes, Nelson Rodrigues. Mais ainda: teatro
infantil, Maria Clara Machado, Pedro Veiga, até mesmo o musical Os
Saltimbancos, de Chico Buarque.
O século XXI, numa
cidade onde muitos grupos teatrais e de dança se lançaram com uma diversidade
nunca vista, e, sobretudo, onde a presença do SESC e seu teatro foi fundamental
como espaço cênico, trouxe para o TPA desafios corajosos e mais dramáticos. Domingos
Soares, seu principal encenador, é a referência nesta compreensão.
É
significativo citar diretamente que, em 2014, montou o espetáculo Patética,
de João Ribeiro Chaves Neto, em alusão aos 50 anos do golpe militar de 1964 e, em
2018, o TPA montou o seu 13º trabalho: A Cantora Careca, de Eugene
Ionesco, com direção do ator Paulo Reis de Mello.
Essas
peças, ao lado das encenações costumeiras e homenagens ao mestre Ariano,
consagram definitivamente o TPA na memória do teatro local. Ainda que críticas
possam ser feitas – aliás, não temos um crítico teatral com coragem e bagagem
para isso – vamos repensar as dificuldades de se fazer teatro amador na cidade
e na região.
Estamos
seguros de que esses 30 anos do TPA servem de referência e avaliação para todos
nós, de sua importância e de sua capacidade de existir e atuar nesse exemplo de
país e de uma cidade que se desmorona sem políticas públicas participativas e
educação para a arte e a cultura.
Tantas
vozes, tantos entrelugares, produzindo sentidos... Continuemos nossa história,
saudemos a memória possível. Viva o TPA!
Obs.: Este texto também foi publicado no Jornal A Ponte - Informativo do XV Festival de Artes do Vale do São Francisco - Ano XII - 2a. edição - Petrolina, l de agosto de 2019
Que texto maravilhoso e bem elaborado onde você homenagea o TPA e ressalta a importância do mesmo inclusive no século XXI que são poucas as pessoas a ter interesse pelo teatro,por essa cultura teatral,no entanto o TPA continua levantando alegria aos que amam o teatro.Parabéns Bet pelo texto! parabéns por ser essa mulher iluminada e rica de saberes...Viva o TPA!!!��
ResponderExcluirMuito obrigada desconhecido... concordo: amamos o teatro
ExcluirParabéns Bet! Parabéns ao TPA (GRUTAP)!
ResponderExcluirDifícil achar um ator nesta cidade que não tenha vivido teatro no TPA, em algum momento.
Passei momentos da minha história com o teatro, que guardo com muito carinho na minha memoria, neste grupo. Devo toda a minha relação com o teatro a este grupo!A Sebastião Simão e a Thom Galeano!
Gostei. Parabéns ao TPA e que continue desbravando. Espero ter a oportunidade de assistir a algo quando for a Petrolina. Mas também gostei pela alusão às posturas estética e política do “popular”, que nem sempre andam juntas. De certa feita, comentei no Face sobre isso, ao observar pessoas politicamente defensoras dos direitos do povo, mas que criticavam a música que vinha dele, taxando-a disso e daquilo, bem como a seus intérpretes. Nessa visão, MPB (Música Popular Brasileira) são as criações dos de Chico Buarque, de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ivan Lins e vários outros maravilhosos dessa linha de erudição. Sim, mas ao lado dessa estética vinda de uma parte mais “estudada” desse povo, há outra que pulsa e que tem características diferentes no próprio ato de criar e do dizer nessa criação; é outra voz mostrando também suas maravilhas (há coisas lindas). É claro que o ser político tem preferências estéticas, e não é essa a questão. Estou refletindo sobre uma classificação de MPB que exclui o que também é do povo. Por seu texto, Elisabet, tenho a impressão de que o TPA vem fixando seu espaço nesse sentido, e que continue marcando sua vez, seu direito de existir como tal.
ResponderExcluirO bacio ficou na outra linha no recorte do texto rsrsrsrs
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