Análise do conto Medição
Individual de Varlam Chalámov
(in Contos de Kolimá 1, São
Paulo: Editora 34, 2018, p. 46/49)
Elisabet Gonçalves Moreira
Desde
que tive acesso a uma parte da literatura de Varlam Chalámov (1907-1982),
textos em prosa reunidos em seis volumes, com o nome de Contos de Kolimá,
me vi desafiada por outra perspectiva da assim chamada “literatura de
testemunho” e seu impacto contemporâneo. Traduzidos diretamente do russo,
relatos, contos, ensaios, até mesmo dois poemas, cujo foco denuncia a vida (e a
morte) nos Gulags, campos de trabalhos forçados na ex-Soviética União, região
de Kolimá, no extremo leste da Sibéria, onde Chalámov foi prisioneiro por dezessete
anos.
Os
extremos, sejam geográficos, condições climáticas, exaustão e sobretudo a fome,
levam ao paroxismo o extermínio ali praticado durante a repressão stalinista. Au
delàs da questão ideológica do regime, Chalámov trabalha as idiossincrasias
morais que aniquilam qualquer humanidade possível. Corpos e mentes em desacordo,
desapiedados e indiferentes à ignomínia.
Particularizando,
foi no primeiro volume que me deparei com um conto, sim, posso classificá-lo
nesse gênero, que, de certa forma, mostrou aquele que, para mim, revela um
procedimento exemplar de sua poética. “Medição Individual” é tomado aqui como parâmetro
de um testemunho em que realidade e arte se conjugam.
Sem fazer uma paráfrase, o leitor deste trabalho também poderá ir e vir no texto do autor, complementando referências e lacunas.
MEDIÇÃO INDIVIDUAL
VARLAM CHALÁMOV
No final da tarde, enrolando a trena, o encarregado
disse que a medição de Dugáiev no dia seguinte seria individual. O chefe da
brigada, que estava de pé ali ao lado e pedira emprestada ao encarregado “uma
dezena de centímetros cúbicos até depois de amanhã”, calou-se de repente e
fixou os olhos na estrela vespertina cintilante, na crista da sopka nua.
Baránov, parceiro de Dugáiev, que ajudara o encarregado a medir o trabalho
feito, pegou a pá e pôs-se a limpar a galeria de mina que há muito já fora
limpa.
Dugáiev tinha 23 anos de idade e tudo o que via e
ouvia aqui mais o surpreendia do que assustava.
A brigada reuniu-se para a contagem, entregou as
ferramentas e voltou ao pavilhão numa formação irregular. O dia difícil
terminara. No refeitório, sem se sentar, Dugáiev tomou a porção de sopa de
cereal rala e fria pela borda da tigela. O pão distribuído de manhã para o dia
todo há muito fora comido. Vontade de fumar. Olhou ao redor, imaginando de quem
podia pechinchar uma guimba. Na beira da janela, Baránov juntava num papel os
fiapos de makhorka da bolsa de tabaco revirada. Juntou-os zelosamente,
enrolou um cigarro fininho e estendeu-o a Dugáiev.
- Fume e devolva – propôs ele.
Dugáiev ficou surpreso, ele e Baránov não eram amigos.
Aliás, com fome, frio e sono, não se fazia amizade nenhuma, e Dugáiev, apesar
de jovem, compreendia toda a falsidade do provérbio sobre amigos temperados na
infelicidade e na desgraça. Para que a amizade fosse amizade era preciso uma
base sólida, formada quando as condições e a vida ainda não tivessem atingido
aquela última fronteira, além da qual já não há nada de humano no ser humano, a
não ser desconfiança, maldade e mentira. Dugáiev lembrava bem o provérbio
nortista dos três mandamentos do detento: não confie, não tema e não peça...
Dugáiev absorveu avidamente a fumaça doce da makhorka
e sua cabeça girou.
- Estou ficando fraco – disse ele.
Baránov não disse nada.
Dugáiev voltou ao pavilhão, deitou-se e fechou os
olhos. Nos últimos tempos, dormia mal, a fome não o deixava dormir direito. Os
sonhos eram especialmente martirizantes; bisnagas de pão, sopas grossas
fumegantes... A sonolência demorou a chegar, mas, apesar disso, meia hora antes
do toque de alvorada, Dugáiev já abria os olhos.
A brigada chegou ao trabalho. Foi cada um para a sua
galeria.
- Você, espere aqui – disse o chefe da brigada a
Dugáiev. – O encarregado é que vai dizer.
Dugáiev sentou-se no chão. Já estava tão esgotado que
enfrentava com total indiferença qualquer mudança no destino.
Os primeiros carrinhos de mão caíram com estrondo
sobre o passadouro de madeira, as pás bateram nas pedras, rangendo.
- Venha cá – disse o encarregado a Dugáiev. – Seu
lugar é aqui.
Ele mediu a cubatura da galeria e colocou uma marca:
um pedaço de quartzo.
- Até aqui – disse ele. – O tabueiro vai estender as
tábuas até o caminho principal. Aí você leva até lá, como todo mundo. Tome: pá,
picareta, pé de cabra, carrinho de mão. Ande.
Dugáiev começou o trabalho, obediente.
“Melhor assim”, pensou ele. Nenhum dos companheiros ia
ficar resmungando que ele trabalhava mal. Ex-lavradores não eram obrigados a
entender, nem podiam saber que Dugáiev era novato, que tinha ido para a
universidade logo depois do colégio e trocara o banco universitário por essa
galeria de mina. Cada um por si. Não eram obrigados a entender e não entendiam
que há muito tempo ele estava esgotado e faminto e que não sabia roubar: no
Norte, um talento importante era a habilidade de roubar, em todas as suas
formas, começando pelo pão do companheiro e terminando pelos milhares de pedidos
oficiais de prêmios à chefia por resultados inexistentes, não alcançados. Não
era da conta de ninguém se Dugáiev não conseguia aguentar um dia de trabalho de
dezesseis horas.
Dugáiev empurrava o carrinho, escavava e carregava; de
novo empurrava o carrinho, escavava e carregava.
Depois do intervalo do almoço, o encarregado chegou,
examinou o que Dugáiev tinha feito e saiu calado... Dugáiev voltou a escavar e
a carregar. Ainda faltava muito até a marca de quartzo.
No final da tarde, o encarregado apareceu de novo e
esticou a trena. Mediu o que Dugáiev fizera.
- Vinte e cinco por cento – disse ele e olhou para
Dugáiev. – Vinte e cinco por cento. Está ouvindo?
- Estou – disse Dugáiev.
Surpreendia-lhe essa cifra. O trabalho era pesado, a
pá pegava tão pouca pedra, era tão difícil escavar. A cifra, vinte e cinco por
cento da cota, parecia muito grande a Dugáiev. As batatas da perna doíam sem
parar por causa do peso do carrinho de mão; as mãos, os ombros, a cabeça doíam
insuportavelmente. A sensação de fome há muito o abandonara. Dugáiev comia
porque via os outros comendo; algo lhe dizia: é preciso comer. Mas ele não
tinha vontade de comer.
- Bem, é isso – disse o encarregado, afastando-se. –
Desejo boa sorte.
De noite, mandaram Dugáiev ao agente de polícia. Ele
respondeu quatro perguntas: nome, sobrenome, artigo, pena. Quatro perguntas que
faziam ao detento trinta vezes ao dia. Depois Dugáiev for dormir. No dia
seguinte, trabalhou de novo com a brigada, ainda como parceiro de Baránov, mas,
passados, dois dias, à noite, os soldados levaram-no por detrás da estrebaria,
passando pela trilha do bosque até o local, onde, quase cortando um pequeno
desfiladeiro, ficava uma cerca alta, de arame farpado, estendida até em cima, e
de onde, à noite, ouvia-se um farfalhar longínquo de tratores. E, tendo
compreendido o que ia acontecer, Dugáiev lamentou ter trabalhado em vão, ter
padecido em vão no trabalho aquele dia, aquele último dia.
(1955)
À esquerda: Trabalhos forçados em Kolimá na Sibéria À direita: o escritor Varlam Chalámov, na prisão, em 1937.
Qual foi o objetivo de minha análise? Demonstrar, neste texto de Chalámov, o procedimento construtivo em que realidade e arte se conjugam. A medida do poético e da consciência do horror vivido e recriado como expressão escrita.
“No final da tarde, enrolando a trena, o encarregado disse que a medição de Dugáiev no dia seguinte seria individual.”
O
que significa o anúncio dessa medição individual, destacada desde o título?
É,
a partir daí que, imediatamente, nos situamos no núcleo motivador da
narrativa, para acompanharmos os acontecimentos em que o destino de Dugáiev é
decidido no desenrolar de uma trena. Neste início, de imediato, justificam-se o
leitmotiv, o título e a sequência da narrativa. Uma rede de significados
é construída a partir desta referência.
A
despersonalização de Dugáiev já está neste nome, sem prenome e patronímico. Um
entre tantos... ou, como tantos outros. Condenados do sistema, não existe
futuro. Subentende-se um desafio que Dugáiev jamais poderá cumprir como meta de
produção. Todo o tempo, ele parece tão anestesiado pelo sofrimento que nada o
assusta mais.
Ao
redor do personagem Dugáiev, aparecem os coadjuvantes com suas tarefas de
fiscalização e punição que fazem o sistema funcionar. Temos o “encarregado”,
cumpridor de ordens e de metas e, na sequência do primeiro parágrafo, vão
aparecer mais dois personagens da cena inicial.
O
chefe da brigada – que não precisa ser nomeado – seu cargo e importância já
bastam, e Baránov, o parceiro de Dugáiev. Destaca-se a indiferença do chefe,
seu silêncio repentino e a atitude inusitada e reveladora da esperteza de
Baránov a limpar a galeria da mina que já fora limpa. Eles todos sabem, sem
dúvidas, o que aguarda Dugáiev, menos o próprio.
Ficaremos
sabendo que Dugáiev não é um lavrador ou um blatar, o bandido comum,
referência em outros contos de V. Chalámov. O fato de ser jovem, 23 anos,
estudante, pode até justificar certa ingenuidade e fraqueza para a realidade
dos trabalhos forçados, demonstrar sua inexperiência e ter agravada sua
punição. E até atrair nossa simpatia, enquanto leitores.
Ressalto
nesta frase inicial duas referências a um tempo cronológico: o que acontece no
final da tarde e o que acontecerá amanhã. Um tempo também medido, delimitado,
criando antecipadamente uma situação narrativa e um suspense.
Sabe-se
que, no sistema penal, é justamente no controle do tempo e garantindo sua
utilização que se assegura o poder sobre o outro e o que ele representa;
conserva-se o domínio nessa duração, na pena imposta aos condenados. No caso
deste conto, abrevia-se não só o tempo como a narrativa.
Uma
dinâmica quase cinematográfica nos leva a imaginar o cenário, seus atores e
sutis contrapontos para o caminhar do inevitável. Há um narrador onisciente
sim, mas isso não é documentário, é literatura. Há um segundo plano onde
o leitor atento perceberá (ou não?) o desenrolar anunciado pela trama, seus
personagens, atitudes e silêncios. E é justamente nesse plano que tudo adquire
significação.
Há
suspense até na estrutura dos parágrafos, intercalando um pequeno parágrafo ou
uma fala, depois de uma narração em que certos detalhes do local e das
condições físicas e necessidades de Dugáiev, como comer e fumar, são mostradas
através de frases curtas, incisivas.
Apesar
da tensão implícita na condução da narrativa, percebe-se uma sequência de
normalidade onde tudo é previsível, pois, afinal, aquilo é o cotidiano nos
campos de Kolimá. Uma voz narrativa vai
refletir sobre a falsidade onde não se tem, nem se pode ter, qualquer amizade
neste lugar - o Norte - e nestas condições, a invariante da fome, do frio e dos
trabalhos forçados.
“...aquela
última fronteira, além da qual já não há nada de humano no ser humano, a não
ser desconfiança, maldade e mentira.”
A
desconfiança na capacidade de trabalho de Dugáiev já fora “delatada”
implicitamente. No Gulag demonstra-se a verdade de “cada um por si.” O mais são mentiras que todo detento deve bem
saber.
Afinal
“Não era da conta de ninguém se Dugáiev não conseguia aguentar um dia de
trabalho de dezesseis horas.” Isso é o que o personagem parece concluir,
pela voz do narrador. Um contraponto com a fiscalização dos trabalhos dos
detentos e as metas a serem atingidas por esses escravos de um regime que, além
de condenados, os quer “produtivos”. Tolerância zero, como dizemos hoje.
Dentro
da estrutura desses aparatos da repressão, de sua hierarquia, não consigo
deixar de pensar na referida maldade, não como uma abstração, mas como ela é
organizada, disciplinada. Na expressão “banalidade do mal”, Hannah Arendt
admiravelmente deduziu, no julgamento de Eichmann, o nazista genocida, um homem
comum, aquele que se julga inocente, pois apenas cumpre – e muito bem – as
ordens superiores. Realmente é difícil
aceitar que burocratas assassinos possam ser também dedicados e sensíveis cidadãos.
Nesse
conto, ainda no primeiro parágrafo, o chefe da brigada, autoritário nas
exigências e que implicam no destino sem saída de Dugáiev, “...calou-se de
repente e fixou os olhos na estrela vespertina cintilante...” Nesse silêncio explícito e olhar para o alto, no
contraponto do que ele já sabe, podemos inferir algum traço de humanidade? Na
verdade, ele apenas cumpre o seu dever, como um chefe eficiente.
E
Dugáiev, o novato nas lavras, aquele “que tinha ido para a universidade ...
e trocara o banco universitário por essa galeria de mina”, o sujeito
punido, não trocara coisa nenhuma, já que, ironicamente, fora condenado a
trabalhos forçados sem direitos e futuro.
Sabe-se que grande parte dos presos no Gulag eram
presos políticos, geralmente opositores do regime ou aqueles que, mesmo fazendo
parte do governo, muitas vezes caíam em desgraça por um motivo ou outro, sendo perseguidos,
silenciados e punidos.
No caso desse conto em análise, nem sequer sabemos
qual foi a “culpa”, o motivo da prisão de Dugáiev; supomos uma oposição
qualquer, como estudante, ao regime da época stalinista, provavelmente o temível
artigo 58, que podia abarcar qualquer denúncia e que levou à prisão enorme
contingente de pessoas, os “inimigos do povo”, incluindo grande número de
inocentes.
A simpatia pelo jovem também nos faz perguntar: seria
ele um inocente, uma vítima? A literatura de Chalámov não deixa escapar nem o
prisioneiro, nem qualquer intervenção. “Cada um por si”, já fora
explicitado.
Certo
que o escritor, em alguns ensaios, no volume 4 dos Contos de Kolimá, tenha
feito um apanhado geral dos tipos presos nestes campos de trabalhos forçados,
distinguindo o bandido contumaz - assassinos, ladrões, estupradores: os blatares
- dos outros condenados. Sua organização e violência o levou não só a descrever
os blatares, mas fazer um discurso moralista e condenatório de sua perversidade
sem limites. Aí sim temos o posicionamento e o testemunho desnudado, em
detalhes.
Entretanto,
o escritor nunca deixa de ser um escritor. Nesse sentido, literariamente, há
contos admiráveis das ações desses bandidos em outras obras, de sua total
indiferença a possíveis sentimentos de benevolência e a submissão de outros
prisioneiros, muitas vezes para sua autopreservação, ou derrocada moral naquele
ambiente sub-humano.
“Tão
difícil escavar”, admite o novato Dugáiev,
sem experiência o corpo todo dói, sequer a fome o atormenta mais. Prisioneiros
sacrificados pelo castigo da fome, na letargia da subnutrição, sabemos que o
personagem já não tem alternativa. Discurso indireto, o autor mergulha no corpo
e mente do personagem. Inclusive são “martirizantes” os sonhos do
personagem, eloquentes nas imagens de alimentos simples, como bisnagas de pão e
sopas grossas.
Somente
uma testemunha dessa tortura, como foi Chalámov, possa dela falar com tamanha
força. Aqui, no Nordeste, há uma expressão popular, usada em situações difíceis,
de filas longas, metáfora de uma miséria crônica: “comprida como um dia de
fome”.
Voltando
à narrativa, então tudo se completa: o personagem escava, trabalha, mas a
medição individual deu apenas vinte e cinco por cento do que lhe havia sido
imposto. Irônico, o encarregado ainda lhe deseja boa sorte. O que,
evidentemente, Dugáiev jamais terá.
Nem
há um clímax descrito para o final ou a execução; isso já vinha se desenrolando,
só Dugáiev não desconfiava. Tantos índices e marcas que o jovem não percebera. A
violência é, pois, simbolicamente demonstrada.
No
último parágrafo, a sequência de fatos e ações tem ritmo mais lento e
detalhado. A presença do agente de polícia e o interrogatório parecem não
constituir uma anormalidade. Dugáiev dorme, ainda trabalha em parceria com Baránov,
dois dias se passam. Mas à noite, levado pelos soldados, o cenário improvável,
deslocado do cotidiano, não deixa dúvidas sobre a execução. Dugáiev, assim como
o leitor, finalmente compreendem o que “ia acontecer”.
Quase
epifania, essa compreensão constitui um corte, o momento fundamental da
narrativa. Não dá para sair ileso de um testemunho literário como esse. E, sobretudo,
entender, também, dolorosamente, assim como o personagem, que tudo fora “em
vão”, que fora seu último dia.
“E,
tendo compreendido o que ia acontecer, Dugáiev lamentou ter trabalhado em vão,
ter padecido em vão no trabalho aquele dia, aquele último dia.”
Sem ceder ao melodramático, Varlan Chalámov, testemunha e sobrevivente dessa realidade, destrói em sua narrativa qualquer possibilidade de romantização do horror vivido. Isso, ele mesmo fez questão de deixar claro. No fragmento do ensaio “Sobre a prosa” defende uma literatura forte, vivida, nunca “de fora”. Situações extremas, repletas de significação. Também nos tornamos testemunhas.
Petrolina, 2 de março de 2022.
Dolorido ler... Imaginar...
ResponderExcluirInclusive nos traz temor, nos dias de hoje, pensar que estas coisas podem (ou já estão) ressurgindo, mesmo que de maneira sorrateira, imperceptível aos senso comum.
Momento de refletir o passado e agir em prol de um futuro melhor.
Obrigada Bet por nos trazer este conto.
Obrigada Benigna, vc foi ao ponto... aguardemos o que não pode ser aguardado.
ExcluirRecebi de Elena Vássina, russa, professora de língua e cultura russa na USP, a resposta a um e-mail que vou "colar" aqui, pois reflete o texto de Chalámov, assim como um momento de grande expectativa e tensão. Além de uma informação oportuna sobre Boris e Jerusa...
ResponderExcluir"que bom receber seu email e saber que você está bem ativa escrevendo belos textos.
Amei o seu texto sobre o conto de Varlámov. Há tanta fragilidade e delicadeza no personagem… mas, como você escreve, tudo é previsível, o fim de Dugáiev é previsível… sua analise me fez pensar na invasão russa que está acontecendo agora na Ucrânia… porque o bem é tão frágil? porque há tanto mal no ser humano? você nem pode imaginar com é difícil nessas horas ser russa.
Mas estou fazendo tudo o possível contra o «cancelamento» da cultura russa pois acredito que é ela que nos faz entender melhor esta batalha entre o bem e mal que se desenvolve, primeiro, no coração do homem, como falou Dostoiévski.
Vc sabia que o Boris e a Jerusa foram os amigos bem próximos do enteado de Chalámov, professor Serguei Neklíudov? Lembro-me que mandei para o Boris várias entrevistas gravadas de Nekliúdov onde ele falou sobre a obra de Chalamov."
Surpresa com a dinâmica cinematográfica do conto e outras "medições" reveladas em sua análise:
ResponderExcluiro autor escava o próprio ato da escrita no controle do tempo da narrativa;
o personagem Dugáiev escava sua própria pena:"Tão difícil de escavar";
leitores atentos têm chance escavar mais sentidos;
o testemunho escava consciências, denúncia e reflexão sobre os abismos da alma humana.
Sim. "Realidade e Arte se conjugam."
Obrigada Auxiliadora... "escavamos" em nossos afazeres, escritas e leituras.
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