Tanto que Drummond, o poeta, relaciona cores, dizeres, essência, a partir do axioma "Da cor à cor inexistente", livro referência do artista.
"Agradável é reabrir, de vez em quando, o envelope que trouxe a mensagem de boas-festas do pintor Israel Pedrosa. E, dentro, comprovar que a cor inexistente existe mesmo. Pelo que se conclui muitas outras coisas ditas inexistentes, lá um dia poderão também existir, e com isto se alcançará não apenas a essência da harmonia cromática, mas a própria essência da harmonia universal." Carlos Drummond de Andrade (Jornal do Brasil, 11/01/1975)
Na procura de coisas ditas, digo, não digo a essência, minicontos coloridos, escritos a partir de um desafio numa oficina de escrita criativa... sim, o colorido do mundo está em nós...
Cor de sangue
Penélope escolhe as cores do seu destino. O fio azul real
acabou. Mas lhe cai a seus pés um novelo vermelho vivo.
Cores a granel
Lucinha pintava e pintava. Não havia o que não pintasse.
Cadernos e folhas, paredes, roupas, gente. Deliciosos giz pastel, secos e
oleosos. Um dia engoliu tudinho. Ficou multicolorida.
Verde musgo
Carlito vagava pelo mato sem eira nem beira. Foi descansar ao pé de um grande jatobá. Dormiu e quando acordou viu um pote de ouro a seu lado. Só entendeu sua sorte quando percebeu que dormira num campo de trevos de quatro folhas.Íris cor de mel
Nos olhos de sua gata, Josie via seu reflexo. Ambas entravam no cio na lua cheia.
Cor de pele
Josué era um pintor figurativo. Nessa especialidade, fazia o retrato de seu filho em todos os aniversários. O mais difícil era conseguir o tom da pele que insistia em ficar diferente a cada ano, como um recado da impossibilidade. Até que, na adolescência, ele cansou. Pintou um abstrato.
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