Criações a partir de textos e improvisações sobre o imaginário teórico me trazem de volta ao blog. Uma ilustração acompanha, dialogando e/ou complementando.
A MEIO CAMINHO...
Solitária em seu destino de viajante humana, a mulher caminhou décadas e décadas, apostando em oferendas a que se obrigava. Esperando trocas, aplausos, assim vivia.
Entretanto, percebeu que suas oferendas nem sempre eram recebidas como esperava. Mesmo quando aprovada, idealizando plenitude, entendeu tarde dessa criação pelas bordas.
Egoísta, despachou humanas oferendas para longe de si, mais
solitária em seu desejo de ser. Adornou-se como personagem de um jogo estático
em seu avesso.
Cobriu-se de matizes vermelhos e laranjas, num semicerrar de
olhos velados. Assim, não via o mundo e nem a si mesma, desengonçada em seu
corpo rígido.
Sua bagagem era a do exagero, de tudo um pouco a sustentar
sua inquietude. Na diversidade de
desafios, oscilava em ondas espiraladas.
Tentou ser árvore, pássaro, borboleta, mas lhe disseram a
verdade da vida figurativa em cópias sucessivas, máscaras em que se auto representava.
Havia oferendas da noite nesse processo da viagem limite.
Agradar a deusa (ela mesma) poderia compensar escolhas subjetivas, presos
arbítrios na continuidade.
Houve um momento em que ela se ofereceu inteira. Rejeitada, sua
crueldade transbordou no íntimo. E se manifestou em seu corpo, em juntas e
dores tiranizando trajetos.
De todo modo, ela subsistia. Entendeu que a redenção é uma
história para iniciados. Aguardando o final, outra deusa, sim, outra deusa
mulher lhe falou da liberação possível.
Atender ao chamado do amor que subsiste como receita contra
necessidades personalizadas de punição e ressentimento. Aplaudir sem vergonha o
final do filme de que gostou.
E assim fez. O excesso de bagagem agora visto em outra
dinâmica, a do prazer e inspiração.
Atirou longe o que se lhe afigurou desperdício de si mesma. Não era. Não
foi. Abençoou-se.
Descaradamente, a criança interna se regozija e pode ser mais do que estar na espera do inevitável. Aprendendo a tingir de vermelho e seus matizes que acompanham o arrebol, continua viajante.
Maravilhoso, o ato de despir-se, não das vestes, mas de si próprio e das oferendas que todos carregamos e que, acabam por se mostrar, em grane parte, um fardo que carregamos sem perceber.
ResponderExcluirObrigada, sim, é isso... continuo viajante.
ResponderExcluirMuito Bom! Na bagagem o mínimo, no coração o amor ; na vida inspirações...
ResponderExcluirObrigada! Sintetizando a mensagem...
ExcluirDespir-se, filtrar e despachar os excessos da bagagem é um baita exercício..No contínuo da viagem a redenção ensina, inspira, acolhe e abençoa...
ResponderExcluirObrigada! Isso, um mantra para nosotras...
ExcluirMaravilhoso! Em especial, me toca esse trecho: "Sua bagagem era a do exagero, de tudo um pouco a sustentar sua inquietude. Na diversidade de desafios, oscilava em ondas espiraladas." Obrigada pela partilha e convite à viagem, Bet!
ResponderExcluirObrigada Solange, sim, viajemos...
ExcluirIntenso como você Bet, Gaston Bachelard diz que 'todo imaginário tem um tom de realidade." Aprendi com você que descaradamente precisamos reiventar a nossa viagem! Saudade
ResponderExcluirObrigada Rúbia! Bom lembrar dessa associação... a vida pós-imaginário...
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