Bet com t mudo

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BET COM T MUDO... Quem me conhece, reconhece? Já me imagino receptora deste blog. Quem é esta mulher? Quem é esta Eli, Elisa, Betina, Betuska, Betî, resumida numa Bet com t mudo? Esta afirmação diminuta diz (ou desdiz?) uma identidade... Assim, quem sou eu? Sou (sim) uma idealizadora das pessoas, das relações, das amizades, das produções minhas e dos outros. Consequência: um sofrimento que perdura... na mulher crítica que procura saber e tomar consciência finalmente de quem é e do que ainda pode fazer (renascer?!) nesta fase da vida, um envelhecimento em caráter de antecipação do inevitável. Daí a justificativa do blog. Percorrer olhares, visualizar controvérsias, pôr e contrapor, depositar num receptor imaginário (despojá-lo do ideal, já que eu o sou!) uma escrita em que o discurso poderá trazer uma Bet com t falante... LEITURAS, ESCRITAS, SIGNATURAS...

sexta-feira, 7 de junho de 2024

DESAFIOS DO IMAGINÁRIO (II)

 

Era uma vez...

Uma mulher com 2024 anos de idade que regressava teimosamente aos exemplos e cultivo de deusas ancestrais, rainhas da luz e das trevas. Espirais do conhecimento, movimentos de idas e voltas nos embates com o mundo e reveses além do cotidiano, neles se enovelava.

Louvou Inana, exemplo da única mulher deusa que, antes do dilúvio, desceu aos infernos e dele voltou, refazendo seu destino. Invocada, Inana fez companhia a essa mulher que, volta e meia, nos círculos do tempo, abria portais e lutava em desespero pela vida e pelo amor.

No oco do corpo, um abismo foi construído. Ali encontrou o caminho da descida, degraus que a sustentavam e que se deterioravam com o aglomerado de mágoas e culpas. Dos olhos mágicos de Inana vinham os créditos da continuidade, ainda que o risco da queda fosse previsível.

Entre o céu e a terra em que navegava Inana, essa mulher achou que também podia ser uma deusa. Mas o abismo em que descera, também submergia sua onírica intenção. Assim, passou a louvar seu monstro interno, ela mesma, gostando de ser algoz e vítima.

Inana sabia o que essa mulher não sabia. Encontraram demônios e os mais perigosos ela lhe ensinou a esconjurá-los. Da revolta guardou pouco saber, mas aprendeu a continuar. Cicatrizes ficam cravadas nas artérias em circulação, labirinto em que se perdera, sem fio de resgate.

Inana, numinosa, proferiu o dito irreversível, enunciado repetido, sucessivo, vozes em coro, em solos, pelos séculos e séculos amém “eu sou a luz do mundo”. E se despediu dessa mulher que ficou presa na metáfora epifânica de si mesma.

Então ela começou a subir os degraus da volta. Pelo oco do corpo foi vendo o que construíra, em galhos e papel, preto e branco, em cores, legitimando o reverso de sua humana aceitação. A espiral ascendente resplandeceu para que essa mulher entendesse para que viera e caminhara séculos e séculos amém!


Foto tirada do livro:

Inana: antes da poesia ser palavra era mulher/Enheduana: traduzido do sumério por Guilherme Gontijo Flores, Adriano Scandolara. São Paulo: sobinfluencia edições, 2022. (p. 84/85)




(os deuses dialogam entre si...)


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